nos 45 anos do seu assassinato pela PIDE
Um exemplo sempre presente <br>na luta que continua
O PCP evocou, anteontem, dia 19, a memória de José Dias Coelho, «artista militante e militante revolucionário» assassinado pela PIDE há 45 anos. Largas dezenas de militantes concentraram-se junto ao local do crime e assistiram, depois, ao lançamento da reedição da sua obra A Resistência em Portugal.
«De todas as sementes confiadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas.» Esta frase escreveu-a José Dias Coelho para ilustrar aquela que acabaria por ser a sua última gravura, publicada no Avante! da segunda quinzena do mês de Novembro do ano de 1961. Nela retratava-se o assassinato pela repressão de um jovem de Almada, Cândido Martins. Mas podia ser aplicada ao próprio José Dias Coelho, que tombou varado pelas balas da PIDE a 19 de Dezembro, apenas um mês depois do operário almadense.
Anteontem, no dia em que se cumpriram 45 anos sobre mais este hediondo crime do fascismo português, o PCP promoveu uma homenagem ao artista revolucionário. O local da concentração não podia ser mais apropriado: precisamente o mesmo em que, no ano de 1961, o comunista caiu abatido pelos carrascos fascistas.
Na parede do prédio da antiga Rua da Creche – a actual Rua José Dias Coelho – uma placa de mármore assinala o local do crime: Ao lado da foice e do martelo cruzados, símbolo da luta a que Dias Coelho dedicou a sua vida e pela qual morreu, lá está, registada, a legenda da sua última gravura.
A noite começava e adivinhava-se fria. Mas à hora marcada eram muitas dezenas os militantes do PCP que se concentravam em torno do pequeno palco para homenagear José Dias Coelho, dispostos a projectar nas lutas do presente e do futuro o exemplo de dedicação e heroísmo simples sempre demonstrados pelo escultor que abandonou uma promissora carreira artística para se dedicar, de corpo inteiro, à luta do seu Partido.
Os anos não apagam o exemplo
Jerónimo de Sousa lembrou o «exemplo de vida vertical e dignidade revolucionária que os 45 anos que nos separam do seu brutal assassinato não conseguem apagar». E não conseguem apagar – prosseguiu – não apenas porque o «belo poema e a canção nos foi sempre interpelando e recordando que “a morte saiu à rua num dia assim” denunciando em toda a parte que “o pintor morreu”». Se o passar dos anos não apaga o exemplo de José Dias Coelho é essencialmente porque «na memória da luta colectiva do nosso povo e do Partido Comunista Português, jamais o seu nome, a sua obra, a sua actividade revolucionária deixou de estar presente na luta que prosseguimos e que ele honrou com o seu trabalho e a sua obra de “artista militante e militante revolucionário”», realçou o secretário-geral do PCP.
No Outono de 1955, recordou Jerónimo de Sousa, José Dias Coelho «deixava para trás as primeiras encomendas públicas de escultura e a sua mais que certa consagração como artista de grande nível; deixava para trás os convívios e as tertúlias que dinamizava com a introdução de temas sociais e políticos; deixava amigos. Deixava tudo – continuou o dirigente do PCP – para se dedicar por “inteiro e definitivo contra um mundo velho e feroz”», como dele diria José Cardoso Pires.
«Um pedaço de mim que se quer dar»
José Dias Coelho, destacou o dirigente comunista, «sabia o alcance da sua decisão de escolher a vida de funcionário clandestino. Sabia o caminho dos grandes perigos que era preciso percorrer, até à liberdade, à prisão ou à morte». Mas, como ele próprio dizia, «em toda a parte há um espaço de mim que se quer dar».
Lembrando o percurso político do comunista assassinado, Jerónimo de Sousa referiu a sua participação activa na construção da unidade antifascista junto dos intelectuais. A década de sessenta, que se iniciou com a fuga de Peniche, «foi um tempo de apontar novos caminhos, de rectificar orientações, de combinar a intervenção clandestina com a luta legal e semi-legal». A resposta da ditadura é a repressão, que se dirige em especial contra os comunistas e o seu Partido.
«José Dias Coelho caiu para sempre tecendo armas neste combate desigual pela liberdade do seu povo, pela democracia, pelos ideais do socialismo. A vida de um revolucionário chegou ao fim, mas não a luta que ele honrou com o seu exemplo de firmeza serena, de convicções e de carácter que nós, com orgulho comunista, queremos guardar para sempre como património da nossa luta colectiva.»
Edições Avante! reeditam A Resistência em Portugal
Uma obra fundamental
O salão da Junta de Freguesia de Alcântara encheu-se com centenas de pessoas para receber o lançamento da reedição do livro de José Dias Coelho, A Resistência em Portugal, apresentado por Aurélio Santos.
Nas palavras de Francisco Melo, responsável pelas Edições Avante!, que ali também interveio, a reedição desta obra «parece-nos revestir-se de grande actualidade no vasto leque de frentes da luta ideológica». Para o membro do Comité Central do PCP, esta obra é um «desmentido histórico objectivo dos manejos político-ideológicos da burguesia e dos seus politólogos ao revelar o papel dos comunistas e outros democratas na luta pela liberdade». Em A Resistência em Portugal, continuou o editor, evidencia-se a «dedicação e a fidelidade aos ideais de que deram provas na defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, ao denunciar o regime fascista de perseguição, de terror e de morte».
Lembrando que a história do PCP e do regime fascista «tem sido e será» uma frente importante da luta ideológica que os comunistas têm que travar, Francisco Melo destacou o carácter pioneiro da obra do comunista assassinado: «Ao longo das suas páginas são relatadas as torturas e os assassínios brutais da PIDE, descritas as características desumanas das prisões fascistas e dos seus regulamentos, evocados julgamentos políticos e perseguições à cultura, relatadas audaciosas fugas e a luta contra a repressão, analisada a dureza da vida na clandestinidade, etc., etc.»
Considerando que o seu empenhamento político e a sua tomada de partido «não constituem obstáculo à prossecução da verdade, o editor destacou que a reedição da obra atingirá o seu pleno objectivo «se o seu espírito de verdade constituir um guia para os que intervêm na luta contra o anticomunismo, se constituir um estímulo e um exemplo para os jovens investigadores sobre o fascismo e a resistência em Portugal».
«Sem vocação» para a morte…
Margarida Tengarrinha, companheira de José Dias Coelho e mãe das suas duas filhas, colaborou na concepção do livro. Na sua intervenção, plena de sentimento, lembrou que o livro nasceu de uma solicitação do Partido, transmitida por Álvaro Cunhal. Naquele momento, lembrou, encontravam-se a fotografar o arquivo histórico do Partido, tarefa que serviu de base de trabalho para a escrita da obra.
Mas não se ficou por aqui. Nas difíceis condições de clandestinidade, foram entrevistados camaradas do Partido sobre os mais diversos acontecimentos. Margarida Tengarrinha lembrou, nomeadamente, os testemunhos de uma camponesa que assistiu ao assassinato pela GNR de Catarina Eufémia, em Baleizão, aproveitados para a obra. A co-autora do trabalho não tem dúvidas: o livro foi feito com rigor e com uma «preocupação enorme em dizer a verdade». E é, adiantou, uma obra actual, necessária para «manter viva a memória».
Para Margarida Tengarrinha, a sessão de apresentação do livro foi bem mais do que isso. Tratou-se, afirmou, de uma homenagem a um homem. «Por isso estivemos há pouco ali, na rua onde ele caiu assassinado, por isso passámos lá em baixo pela exposição evocativa de momentos da sua vida, da sua obra, das razões pelas quais viveu e morreu», valorizou.
E, no entanto, prosseguiu, «não tinha vocação para a morte», pois não tem vocação para a morte quem luta pela vida, «não a sua própria, mas por uma vida melhor para todos os homens». São exactamente esses, os «que lutam pela vida e não têm vocação para a morte» que são recordados no livro, destacou.
Para a companheira do mártir comunista, «foi nas fileiras do Partido Comunista que o Zé (Dias Coelho) encontrou o caminho e a resposta para o seu anseio de mudar o mundo, para a sua revolta contra a opressão».
No final, interveio Jerónimo de Sousa. Emocionado, destacou o percurso artístico de José Dias Coelho e realçou que, ao morrer, não pensou que o Partido morreria com ele. «Queria que ele vivesse, que ele continuasse a luta que travou e o projecto de sociedade com que sonhou».
Exposição evocativa
Artista militante
e militante revolucionário
Encontra-se patente, até dia 29 de Dezembro, na Junta de Freguesia de Alcântara, a exposição evocativa da vida e da obra de José Dias Coelho.
A sua vida, desde o nascimento em Pinhel em 1923 até ao seu assassinato em Dezembro de 1961 encontra-se aí retratada, bem como a sua fértil criação artística. A sua actividade política, no MUNAF e no MUD, na luta pela paz, passando pela actividade clandestina como funcionário do PCP, merece especial destaque.
Anteriores edições do seu livro A Resistência em Portugal – portuguesas e estrangeiras – são outros dos factores de interesse, assim como os modelos de algumas das mais marcantes gravuras de linóleo que produziu para a imprensa do Partido e que constituem, também elas, um património inapagável da luta clandestina dos comunistas portugueses.
Num expositor está ainda a cópia da certidão de óbito do comunista assassinado e testemunho supremo da hipocrisia fascista. Na alínea destinada à causa de morte lê-se: «hemorragia interna».
Anteontem, no dia em que se cumpriram 45 anos sobre mais este hediondo crime do fascismo português, o PCP promoveu uma homenagem ao artista revolucionário. O local da concentração não podia ser mais apropriado: precisamente o mesmo em que, no ano de 1961, o comunista caiu abatido pelos carrascos fascistas.
Na parede do prédio da antiga Rua da Creche – a actual Rua José Dias Coelho – uma placa de mármore assinala o local do crime: Ao lado da foice e do martelo cruzados, símbolo da luta a que Dias Coelho dedicou a sua vida e pela qual morreu, lá está, registada, a legenda da sua última gravura.
A noite começava e adivinhava-se fria. Mas à hora marcada eram muitas dezenas os militantes do PCP que se concentravam em torno do pequeno palco para homenagear José Dias Coelho, dispostos a projectar nas lutas do presente e do futuro o exemplo de dedicação e heroísmo simples sempre demonstrados pelo escultor que abandonou uma promissora carreira artística para se dedicar, de corpo inteiro, à luta do seu Partido.
Os anos não apagam o exemplo
Jerónimo de Sousa lembrou o «exemplo de vida vertical e dignidade revolucionária que os 45 anos que nos separam do seu brutal assassinato não conseguem apagar». E não conseguem apagar – prosseguiu – não apenas porque o «belo poema e a canção nos foi sempre interpelando e recordando que “a morte saiu à rua num dia assim” denunciando em toda a parte que “o pintor morreu”». Se o passar dos anos não apaga o exemplo de José Dias Coelho é essencialmente porque «na memória da luta colectiva do nosso povo e do Partido Comunista Português, jamais o seu nome, a sua obra, a sua actividade revolucionária deixou de estar presente na luta que prosseguimos e que ele honrou com o seu trabalho e a sua obra de “artista militante e militante revolucionário”», realçou o secretário-geral do PCP.
No Outono de 1955, recordou Jerónimo de Sousa, José Dias Coelho «deixava para trás as primeiras encomendas públicas de escultura e a sua mais que certa consagração como artista de grande nível; deixava para trás os convívios e as tertúlias que dinamizava com a introdução de temas sociais e políticos; deixava amigos. Deixava tudo – continuou o dirigente do PCP – para se dedicar por “inteiro e definitivo contra um mundo velho e feroz”», como dele diria José Cardoso Pires.
«Um pedaço de mim que se quer dar»
José Dias Coelho, destacou o dirigente comunista, «sabia o alcance da sua decisão de escolher a vida de funcionário clandestino. Sabia o caminho dos grandes perigos que era preciso percorrer, até à liberdade, à prisão ou à morte». Mas, como ele próprio dizia, «em toda a parte há um espaço de mim que se quer dar».
Lembrando o percurso político do comunista assassinado, Jerónimo de Sousa referiu a sua participação activa na construção da unidade antifascista junto dos intelectuais. A década de sessenta, que se iniciou com a fuga de Peniche, «foi um tempo de apontar novos caminhos, de rectificar orientações, de combinar a intervenção clandestina com a luta legal e semi-legal». A resposta da ditadura é a repressão, que se dirige em especial contra os comunistas e o seu Partido.
«José Dias Coelho caiu para sempre tecendo armas neste combate desigual pela liberdade do seu povo, pela democracia, pelos ideais do socialismo. A vida de um revolucionário chegou ao fim, mas não a luta que ele honrou com o seu exemplo de firmeza serena, de convicções e de carácter que nós, com orgulho comunista, queremos guardar para sempre como património da nossa luta colectiva.»
Edições Avante! reeditam A Resistência em Portugal
Uma obra fundamental
O salão da Junta de Freguesia de Alcântara encheu-se com centenas de pessoas para receber o lançamento da reedição do livro de José Dias Coelho, A Resistência em Portugal, apresentado por Aurélio Santos.
Nas palavras de Francisco Melo, responsável pelas Edições Avante!, que ali também interveio, a reedição desta obra «parece-nos revestir-se de grande actualidade no vasto leque de frentes da luta ideológica». Para o membro do Comité Central do PCP, esta obra é um «desmentido histórico objectivo dos manejos político-ideológicos da burguesia e dos seus politólogos ao revelar o papel dos comunistas e outros democratas na luta pela liberdade». Em A Resistência em Portugal, continuou o editor, evidencia-se a «dedicação e a fidelidade aos ideais de que deram provas na defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, ao denunciar o regime fascista de perseguição, de terror e de morte».
Lembrando que a história do PCP e do regime fascista «tem sido e será» uma frente importante da luta ideológica que os comunistas têm que travar, Francisco Melo destacou o carácter pioneiro da obra do comunista assassinado: «Ao longo das suas páginas são relatadas as torturas e os assassínios brutais da PIDE, descritas as características desumanas das prisões fascistas e dos seus regulamentos, evocados julgamentos políticos e perseguições à cultura, relatadas audaciosas fugas e a luta contra a repressão, analisada a dureza da vida na clandestinidade, etc., etc.»
Considerando que o seu empenhamento político e a sua tomada de partido «não constituem obstáculo à prossecução da verdade, o editor destacou que a reedição da obra atingirá o seu pleno objectivo «se o seu espírito de verdade constituir um guia para os que intervêm na luta contra o anticomunismo, se constituir um estímulo e um exemplo para os jovens investigadores sobre o fascismo e a resistência em Portugal».
«Sem vocação» para a morte…
Margarida Tengarrinha, companheira de José Dias Coelho e mãe das suas duas filhas, colaborou na concepção do livro. Na sua intervenção, plena de sentimento, lembrou que o livro nasceu de uma solicitação do Partido, transmitida por Álvaro Cunhal. Naquele momento, lembrou, encontravam-se a fotografar o arquivo histórico do Partido, tarefa que serviu de base de trabalho para a escrita da obra.
Mas não se ficou por aqui. Nas difíceis condições de clandestinidade, foram entrevistados camaradas do Partido sobre os mais diversos acontecimentos. Margarida Tengarrinha lembrou, nomeadamente, os testemunhos de uma camponesa que assistiu ao assassinato pela GNR de Catarina Eufémia, em Baleizão, aproveitados para a obra. A co-autora do trabalho não tem dúvidas: o livro foi feito com rigor e com uma «preocupação enorme em dizer a verdade». E é, adiantou, uma obra actual, necessária para «manter viva a memória».
Para Margarida Tengarrinha, a sessão de apresentação do livro foi bem mais do que isso. Tratou-se, afirmou, de uma homenagem a um homem. «Por isso estivemos há pouco ali, na rua onde ele caiu assassinado, por isso passámos lá em baixo pela exposição evocativa de momentos da sua vida, da sua obra, das razões pelas quais viveu e morreu», valorizou.
E, no entanto, prosseguiu, «não tinha vocação para a morte», pois não tem vocação para a morte quem luta pela vida, «não a sua própria, mas por uma vida melhor para todos os homens». São exactamente esses, os «que lutam pela vida e não têm vocação para a morte» que são recordados no livro, destacou.
Para a companheira do mártir comunista, «foi nas fileiras do Partido Comunista que o Zé (Dias Coelho) encontrou o caminho e a resposta para o seu anseio de mudar o mundo, para a sua revolta contra a opressão».
No final, interveio Jerónimo de Sousa. Emocionado, destacou o percurso artístico de José Dias Coelho e realçou que, ao morrer, não pensou que o Partido morreria com ele. «Queria que ele vivesse, que ele continuasse a luta que travou e o projecto de sociedade com que sonhou».
Exposição evocativa
Artista militante
e militante revolucionário
Encontra-se patente, até dia 29 de Dezembro, na Junta de Freguesia de Alcântara, a exposição evocativa da vida e da obra de José Dias Coelho.
A sua vida, desde o nascimento em Pinhel em 1923 até ao seu assassinato em Dezembro de 1961 encontra-se aí retratada, bem como a sua fértil criação artística. A sua actividade política, no MUNAF e no MUD, na luta pela paz, passando pela actividade clandestina como funcionário do PCP, merece especial destaque.
Anteriores edições do seu livro A Resistência em Portugal – portuguesas e estrangeiras – são outros dos factores de interesse, assim como os modelos de algumas das mais marcantes gravuras de linóleo que produziu para a imprensa do Partido e que constituem, também elas, um património inapagável da luta clandestina dos comunistas portugueses.
Num expositor está ainda a cópia da certidão de óbito do comunista assassinado e testemunho supremo da hipocrisia fascista. Na alínea destinada à causa de morte lê-se: «hemorragia interna».